Juntas, empresas produzem cerca de um terço da cerveja mundial.
Com a compra bilionária, a AB InBev abre caminho na África.
Do G1, em São Paulo
A britânica SABMiller, número dois do mundo no setor de cervejas, aceitou a última oferta de compra da líder do setor, a AB InBev, de capital belga e brasileiro, pelo equivalente a US$ 109 bilhões (96 bilhões de euros). Se ao valor da compra for adicionada a dívida do grupo, a SABMiller fica avaliada em quase 80 bilhões de libras (US$ 122 bilhões ou 108 bilhões de euros).
Uma vez aprovada pelas autoridades de concorrência, a fusão poderá se tornar a terceira maior da história e a maior aquisição de uma companhia britânica.
Depois de rejeitar quatro propostas anteriores da AB InBev, a SABMiller aceitou a oferta melhorada de 44 libras por ação da empresa, com uma alternativa parcial que envolve dinheiro e ações criada apenas para atender os dois maiores acionistas da SABMiller.
O grupo com sede em Londres explicou que o Conselho de Administração alcançou um acordo com a AB InBev que eleva o valor da companhia britânica a 71,2 bilhões de libras (US$ 109 bilhões ou o equivalente a cerca de R$ 425 bilhões).
Um grupo combinado terá valor de mercado de cerca de US$ 275 bilhões, segundo a Reuters, e combiná a dominância da AB InBev na América Latina com a forte presença da SABMiller na África, ambos mercados de rápido crescimento, assim como suas cervejarias na Ásia.
Se a transação for concretizada como o previsto, o novo grupo incluirá as marcas de cerveja americana Budweiser e belga Stella Artois, pertencentes à AB InBev, assim como a italiana Peroni, a tcheca Pilsner Urquell e a holandesa Grolsch da SABMiller.
As ações da SABMiller fecharam em alta de 9% nesta terça-feira; já as da AB InBev subiram 1,7%.
Ações da Ambev caem no Brasil
A AB InBev é parcialmente controlada pelo fundo de private equity 3G Capital, administrado por investidores brasileiros, e controla indiretamente a brasileira Ambev, dona de marcas como Skol, Brahma, Antarctica e Quilmes.
As ações da Ambev caíram mais de 5% nesta terça-feira na Bovespa. Analistas do BTG Pactual afirmaram em nota a clientes que o papel da Ambev no acordo segue indefinido. “A empresa informou que a transação será financiada por uma combinação de próprios recursos internos financeiros e nova dívida com terceiros. Mas o anúncio da transação contém comentário que não descarta a participação da empresa no acordo”, escreveram os analistas.
Procurada, a Ambev não comentou o assunto e informou que todo o processo de aquisição está sendo conduzido diretamente pela AB InBev, sem a participação da companhia.
A Ambev controla cerca de 68% do mercado brasileiro de cerveja, destaca a Reuters.
O negócio também representa uma dúvida sobre o destino de um acordo de produção e distribuição da SABMiller acertado em outubro do ano passado com o brasileiro Grupo Petrópolis, que produz a cerveja Itaipava.
Termos do acordo
Com esta compra bilionária, a AB InBev abre caminho na África, particularmente na África do Sul, onde a SABMiller nasceu há 120 anos.
O preço de compra representa uma valorização de 50% na comparação com a cotação do título em 14 de setembro, antes dos boatos sobre uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) que elevaram o preço, destacou o Conselho de Administração da SABMiller.
Para obter o acordo, a AB InBev teve que aumentar quatro vezes sua oferta.
As partes concordaram que a AB InBev pagará uma taxa de rompimento de US$ 3 bilhões à SABMiller caso a transação fracasse devido a significativas questões regulatórias ou por falta de apoio dos acionistas da AB InBev.
Os dois maiores acionistas da SABMiller, que detêm em conjunto quase 41% da companhia, são a fabricante de cigarros Altria, que tem fatia de 26,6%, e a família colombiana Santo Domingo, que possui o restante.
Bilionário brasileiro por trás do negócio
A AB InBev é parcialmente controlada pelo fundo de private equity 3G Capital, administrado por investidores brasileiros, e controla indiretamente a brasileira Ambev.
A AB Inbev tem entre os seus donos os brasileiros Jorge Paulo Lemann (homem mais rico do Brasil com fortuna estimada em mais de US$ 25 bilhões, segundo a Bloomberg), Carlos Alberto Sicupira e Marcel Herrmann Telles.
Dono do fundo 3G Capital e sócio da AB Inbev, Lemann tem feito negócios em parceria com a Berkshire Hathaway, de Warren Buffet, como a compra da Heinz e fusão da companhia com a Kraft Foods.
Impactos no mercado de cerveja
O acordo entre as gigantes da cerveja deve gerar repercussões no restante da indústria, particularmente nos Estados Unidos, onde as duas empresas detém cerca de 70%, destaca a Reuters.
A Molson Coors é considerada por analistas como a compradora mais óbvia dos 58% que a SABMiller detém em uma joint-venture nos EUA.
Além disso, analistas afirmam que o grupo combinado terá que vender ativos na China, onde a CR Snow, joint-venture da SABMiller com a China Resources, é líder de mercado.
Negócios na Europa também podem ir à venda, afirmaram os analistas, o que pode atrair o interesse das europeias Heineken e Carlsberg.
O analista Trevor Stirling, da Bernstein Research, calcula em 80% as chances da transação ser concluída, com questões de defesa da concorrência sendo o principal risco.
3ª maior fusão da historia
Confira as 5 maiores fusões/aquisições da história, segundo a empresa de consultoria Dealogic:
1ª O grupo britânico de telecomunicações Vodafone adquire em 1999 a alemã Mannesmann por 172 bilhões de dólares, incluindo a dívida.
2ª Em 2013, a Vodafone vende 45% de sua participação na Verizon Wireless à gigante americana das telecomunicações Verizon por 130,1 bilhões de dólares.
3ª A britânica SABMiller aceita em outubro de 2015 a oferta de compra da AB InBev, de capital belga e brasileiro, avaliada, segundo a Dealogic, em 122 bilhões de dólares, incluindo a dívida.
4ª Em 2000, a americana Time Warner anuncia uma fusão com a compatriota AOL por 112,1 bilhões de dólares, símbolo dos primeiros excessos das empresas ponto.com. As duas empresas se separaram em 2009.
5ª A farmacêutica americana Pfizer adquire em 1999 a rival Warner Lambert por 111,8 bilhões de dólares, incluindo a dívida. A Pfizer se tornou pouco depois a maior empresa farmacêutica mundial.